A ACADEMIA PROMOVE OS MEDÍOCRES

Foto: Terra. Com

Gérson Siqueira

O escritor Machado de Assis, com certeza, retiraria seu elegante pince-nez e daria sonoras gargalhadas assim que visse, sendo empossados na Academia Brasileira de Letras, dois ilustres homenageados: o senador José Sarney  e o ex-presidente Fernando Collor de Mello. O primeiro foi empossado como imortal dois anos depois de ter publicado seu único livro, “Marimbondos de Fogo”, em 1976. Collor foi empossado no mês passado, ocupando a cadeira no. 20, deixada vaga com a morte de Ib Gatto Falcão . Não escreveu livro nenhum, nem mesmo para entrar na hilariante Academia Alagoana de Letras, onde foi aceito apresentando apenas cópias de discursos seus no Senado Federal.

Collor tem uma incrível vocação para pinóquio. Mente desde os seus tempos de presidente, quando afirmou para uma atônita população brasileira que não iria confiscar dinheiro nenhum das poupanças. Mas como a mentira no Brasil é um velho hábito, sempre usada como o cachimbo, que entorta o céu da boca, ninguém dá a menor importância.  O obscuro livro de Sarney deve ter sido lido, no máximo, por seis pessoas. Ele mesmo, os três filhos, a mulher e o porteiro de seu apartamento em Brasília.

Nenhum dos dois tem intelectualidade ou amor ao País suficientes para ser eleito imortal  em qualquer academia, muito menos na Academia Brasileira de Letras, que há muito tempo deixou de ser séria. A casa fundada por Lúcio de Mendonça em 1896, berço de estilistas como Graça Aranha, Rui Barbosa e Afonso Celso decidiu que o caminho mais fácil para a divulgação do seu nome é a promoção dos medíocres.

 

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